Everaldo de Carvalho

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Nesses tempos de pós-crise pandêmica, estamos presenciando um aumento significativo de pessoas procurando atendimento psicológico, apresentando queixas similares como falta de sentido, falta de vontade em realizar as coisas, acídia demasiada, desesperança, isolamento social, virtualidade excessiva nas relações pessoais, pensamento suicida e outros.

Cada vez mais, pessoas de diferentes faixas etárias procuram os consultórios, serviços públicos e privados com queixas nesse formato. O interessante é que essas pessoas estão geralmente com suas satisfações realizadas, ou seja, as necessidades básicas satisfeitas, tendo recursos, trabalho, dinheiro etc.

É percebido um número cada vez maior de pessoas que dispõem de recursos para viver, mas não têm um sentido pelo qual viver. Isso mostra claramente que a compensação financeira – ou dentro de certos limites – e a segurança social não bastam. O homem não vive somente de bem-estar material.

Nesse âmbito, não há dúvida de que o ser humano não pode ser considerado somente como uma criatura cujo interesse fundamental é o de satisfazer suas pulsões, de gratificar seu instinto. Ao contrário, a pessoa se revela como um ser em busca de um sentido para viver. E o esvaziamento dessa busca explica muitos males em nosso tempo.

De acordo com a logoterapia de Victor Frankl, uma das causas para explicar o vazio existencial – que tem como sintomas os problemas citados anteriormente e que pode levar a pessoa a agressividade, a toxicodependência ou a depressão – é a decadência das tradições.

Diferentemente do que viveu o homem de outros tempos, não nos vem orientado o que devemos fazer e, não existindo tais imperativos, o homem talvez não saiba mais o que quer fazer. O resultado disso? Ou faz o que fazem os outros ou então faz o que os outros impõem que ele faça.

O ser humano de maneira geral deseja ser feliz e tem nesse desejo de felicidade sua meta pessoal de vida. Alguns têm como meta para ser feliz um bem material, uma relação amorosa, o emprego dos sonhos etc. Isso não é ruim. Pelo contrário, isso faz parte da vida humana e precisamos dessas metas. Contudo, o que buscamos, em verdade, é um motivo para ser feliz. Não a felicidade em si.

O problema é que podemos possuir bens, ter poder e/ou prazer. Mas, mesmo assim, nos sentiremos incompletos, pois existe em nós uma vontade de sentido, existe uma busca de sentido para a vida, e quando alcançamos uma meta que deveria nos fazer felizes, nos deparamos com a frustração e geralmente as pessoas estão despreparadas para se frustrar. Quando miramos a felicidade, nos deparamos com a frustração.

Esse erro que cometemos ao buscar a felicidade a qualquer custo, ao invés de buscarmos o sentido, é que faz a pessoa se sentir insatisfeita e, consequentemente, cair no vazio existencial.

Quando buscamos ser felizes e não conseguimos, isso nos deprime. E quando retornamos para o ponto de origem, nos deparamos com o vazio existencial, com pensamentos como “eu não consigo, sou incapaz, eu não mereço, sou um amaldiçoado, os outros conseguem e eu não”, causando em nós um sentimento de vazio existencial.

Quando não, nos surgem pensamentos como “será que era isso que eu queria?; será que tomei a decisão certa?; não era bem isso que eu queria”.

Sendo assim é preciso entender que todas as vezes que colocamos como meta algo onde nós mesmos estamos no centro da vontade, iremos nos adoecer, pois de alguma forma o ser humano tem como princípio ontológico cumprir algo, como se fosse uma tarefa, uma missão que está fora dele e quando ele mira no sentido ao invés da felicidade, como consequência lhe vem a felicidade.

A pessoa, ao ler este breve artigo, deve se questionar sobre como está sua busca pela felicidade e identificar se está mirando no alvo correto. Caso a pessoa perceba em si os sintomas como os que foram citados nesse texto e não consegue enxergar na própria existência um motivo pelo qual viver, deve buscar ajuda.